sábado, 15 de fevereiro de 2014

A reportagem percorreu as estradas para investigar como vivem os trabalhadores nas pedreiras clandestinas da Zona da Mata alagoana

Por Marcio Anastacio, Robson Muller e Enzo Lins - Estudantes de Jornalismo - Ufal

Trabalhador segue em direção ao território de mineração 

“Aqui, todo dia a gente vê a cor do nosso sangue”. Fabiano Costa dos Santos, 27, não esconde de onde vieram as cicatrizes carregadas sob a pele, quando a pergunta foi acerca da origem delas. Como ele, centenas de trabalhadores alagoanos se expõem todos os dias aos riscos colocados pela extração manual de pedras, em jazidas clandestinas nos municípios de Branquinha, União dos Palmares, Messias, Murici e Maribondo.
As pedras amoladas e os estilhaços que se soltam quando elas são quebradas acidentam trabalhadores cuja proteção individual é negada por quem os contrata. Nesses ambientes de trabalho, as leis trabalhistas ainda não chegaram.
Manuel Correia, 48, dono de uma das pedreiras clandestinas de Maribondo - com área calculada em cerca de dois hectares, uma das menores da região - revela que mantém em sua propriedade cinco trabalhadores sem vínculo empregatício. “Mil paralelepípedos valem duzentos e setenta reais. Nas pedreiras por aqui, o pagamento é feito por produção”, afirma Manuel.


Estilhaços das pedras ameaçam homens que trabalham nas pedreiras ilegais 

Os produtos extraídos clandestinamente são o paralelepípedo e o meio-fio, vendidos geralmente às construtoras, pessoas físicas e prefeituras sem notas fiscais ou licitações. Nas lojas de materiais de construção, mil paralelepípedos custam entre R$ 600,00 e R$ 700,00. De acordo com os trabalhadores, levam-se em média duas semanas para extrair essa quantidade de paralelepípedos da rocha. Cada homem recebe pelo trabalho insalubre e arriscado cerca de R$ 130 por semana.
O valor por sete dias de produção geralmente é somado à renda obtida do Bolsa Família. Esta quantia é o suficiente para garantir a cesta básica, mas não assegura a compra de medicamentos indispensáveis aos afetados por problemas de saúde causados pela atividade ilegal. Questionados durante a reportagem se sofriam com algum tipo de doença, a maioria dos trabalhadores revela sentir dores nos ombros, nas articulações e, principalmente, na coluna.


Curvatura da coluna durante extração causa dores frequentes em trabalhadores 
Pedras são “fatiadas” com habilidade e técnica
O trabalho de extração mineral começa com a explosão, cuja confecção do explosivo é realizada pelos operários. Impedidos pelo Exército de utilizar dinamite, eles produzem um artefato à base de salitre, enxofre e pó de carvão. Essa mistura é suficiente para desprender a pedra da rocha. Em seguida, o pedaço de rocha é “fatiado” com a habilidade de homens cuja técnica se aprende por necessidade. Para eles, a operação é semelhante a cortar um bolo.
Porém, é justamente na hora das explosões que acontecem os acidentes mais graves. Nas cidades onde esta atividade econômica é efervescente, são comuns os casos de pessoas mutiladas. Trabalhadores que perderam dedos, mãos e até braços juntam-se com os mortos para engrossar o número de vitimas deste trabalho de risco.

Pedras são perfuradas para  facilitar a introdução de explosivos artesanais fabricados pelos próprios trabalhadores 
Para evitar acidentes mais leves, o chefe do Núcleo de Saúde e Segurança no Trabalho, da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), Elton Machado, indica quais são os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) indispensáveis durante a realização desta atividade. “No caso das pedreiras é preciso o calçado de segurança [bota com bico de ferro]; luva para não desgastar as mãos e evitar cortes; óculos de proteção, a pessoa quando faz a perfuração vários estilhaços são lançados, é possível haver lesão no globo ocular. Se houver alguma máquina ruidosa, também é necessário protetor auricular. Para o trabalho a céu aberto, hoje é recomendado o uso do protetor solar para prevenir contra o câncer de pele e outros problemas semelhantes”, orientou o auditor fiscal do Trabalho.
Mas, segundo o representante do STRE, esse é um problema que vai além do uso de EPIs. Para ele, trata-se de uma questão social. “A solução passa por você formalizar a atividade, trazer para o âmbito da legalidade. Primeiro conseguir a autorização do órgão de extração mineral, depois dos ambientais, para a partir daí, organizar por meio de cooperativa ou empresas”, explicou Elton Machado.

Confira imagens feitas pela reportagem:

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