A reportagem percorreu as estradas para investigar como vivem os trabalhadores nas pedreiras clandestinas da Zona da Mata alagoana
Por Marcio Anastacio, Robson Muller e Enzo Lins - Estudantes de Jornalismo - Ufal
Trabalhador segue em direção ao território de mineração
“Aqui,
todo dia a gente vê a cor do nosso sangue”. Fabiano Costa dos Santos, 27, não
esconde de onde vieram as cicatrizes carregadas sob a pele, quando a pergunta
foi acerca da origem delas. Como ele, centenas de trabalhadores alagoanos se
expõem todos os dias aos riscos colocados pela extração manual de pedras, em
jazidas clandestinas nos municípios de Branquinha, União dos Palmares, Messias,
Murici e Maribondo.
As
pedras amoladas e os estilhaços que se soltam quando elas são quebradas
acidentam trabalhadores cuja proteção individual é negada por quem os contrata.
Nesses ambientes de trabalho, as leis trabalhistas ainda não chegaram.
Manuel
Correia, 48, dono de uma das pedreiras clandestinas de Maribondo - com área
calculada em cerca de dois hectares, uma das menores da região - revela que
mantém em sua propriedade cinco trabalhadores sem vínculo empregatício. “Mil
paralelepípedos valem duzentos e setenta reais. Nas pedreiras por aqui, o
pagamento é feito por produção”, afirma Manuel.
Estilhaços das pedras ameaçam homens que trabalham nas pedreiras ilegais
Os
produtos extraídos clandestinamente são o paralelepípedo e o meio-fio, vendidos
geralmente às construtoras, pessoas físicas e prefeituras sem notas fiscais ou
licitações. Nas lojas de materiais de construção, mil paralelepípedos custam
entre R$ 600,00 e R$ 700,00. De acordo com os trabalhadores, levam-se em média
duas semanas para extrair essa quantidade de paralelepípedos da rocha. Cada
homem recebe pelo trabalho insalubre e arriscado cerca de R$ 130 por semana.
O
valor por sete dias de produção geralmente é somado à renda obtida do Bolsa
Família. Esta quantia é o suficiente para garantir a cesta básica, mas não
assegura a compra de medicamentos indispensáveis aos afetados por problemas de
saúde causados pela atividade ilegal. Questionados durante a reportagem se
sofriam com algum tipo de doença, a maioria dos trabalhadores revela sentir
dores nos ombros, nas articulações e, principalmente, na coluna.
Curvatura da coluna durante extração causa dores frequentes em trabalhadores
Pedras
são “fatiadas” com habilidade e técnica
O
trabalho de extração mineral começa com a explosão, cuja confecção do explosivo
é realizada pelos operários. Impedidos pelo Exército de utilizar dinamite, eles
produzem um artefato à base de salitre, enxofre e pó de carvão. Essa mistura é
suficiente para desprender a pedra da rocha. Em seguida, o pedaço de rocha é
“fatiado” com a habilidade de homens cuja técnica se aprende por necessidade.
Para eles, a operação é semelhante a cortar um bolo.
Porém,
é justamente na hora das explosões que acontecem os acidentes mais graves. Nas
cidades onde esta atividade econômica é efervescente, são comuns os casos de
pessoas mutiladas. Trabalhadores que perderam dedos, mãos e até braços
juntam-se com os mortos para engrossar o número de vitimas deste trabalho de
risco.
Pedras são perfuradas para facilitar a introdução de explosivos artesanais fabricados pelos próprios trabalhadores
Para
evitar acidentes mais leves, o chefe do Núcleo de Saúde e Segurança no
Trabalho, da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), Elton
Machado, indica quais são os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)
indispensáveis durante a realização desta atividade. “No caso das pedreiras é
preciso o calçado de segurança [bota com bico de ferro]; luva para não
desgastar as mãos e evitar cortes; óculos de proteção, a pessoa quando faz a
perfuração vários estilhaços são lançados, é possível haver lesão no globo
ocular. Se houver alguma máquina ruidosa, também é necessário protetor auricular.
Para o trabalho a céu aberto, hoje é recomendado o uso do protetor solar para
prevenir contra o câncer de pele e outros problemas semelhantes”, orientou o
auditor fiscal do Trabalho.
Mas,
segundo o representante do STRE, esse é um problema que vai além do uso de
EPIs. Para ele, trata-se de uma questão social. “A solução passa por você
formalizar a atividade, trazer para o âmbito da legalidade. Primeiro conseguir
a autorização do órgão de extração mineral, depois dos ambientais, para a
partir daí, organizar por meio de cooperativa ou empresas”, explicou Elton
Machado.
Confira imagens feitas pela reportagem:
Confira imagens feitas pela reportagem:
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