Pedreiras clandestinas desrespeitam
exigências de órgãos de fiscalização em Alagoas
A Zona da Mata alagoana abriga a maioria dos territórios irregulares de mineração
Fora
de controle. Ainda não se sabe ao certo o número de pedreiras clandestinas que
desenvolvem a extração artesanal da pedra em solo alagoano. O que pode ser
calculado - e ainda assim de forma aproximada - é que a Zona da Mata, região
que possui o maior número de pontos que trabalham nesse segmento, concentra
cerca de 50 territórios irregulares de mineração espalhados por Murici,
Messias, Maribondo, Branquinha, e União dos Palmares.
O
auditor fiscal do Trabalho, Elton Machado, define trabalho clandestino como uma
atividade desvinculada ao registro na Carteira Profissional, ou seja, a função
se torna ilegal quando o empregado não está devidamente formalizado.
Trabalho nas pedreiras é análogo ao
escravo
Para
Elton Machado, a situação das pedreiras irregulares em Alagoas é ainda mais
delicada. “Há pedreiras que não são registradas. Elas não têm autorização do
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) para funcionar”,
declarou.
Quando
questionado pela reportagem sobre o número de trabalhadores que são submetidos
às condições desumanas dos territórios clandestinos de mineração, o chefe do
Núcleo de Saúde e Segurança no Trabalho da SRTE/AL admite que não há um
trabalho de controle quantitativo do efetivo que atua nas pedreiras do Estado.
“Não sei dizer se é muito ou pouco. A coisa é muito pulverizada. A gente não se
deu conta nem da quantidade dos locais de trabalho que existem”, pontuou.
Além
disso, Elton Machado informou que o trabalho de fiscalização da SRTE/AL
enfatiza as empresas legalizadas e que as inspeções desses pontos de mineração
não são realizadas de forma rotineira. Segundo ele, a falta de atuação do órgão
nas áreas irregulares resulta do número insuficiente de efetivo no controle.
“Hoje a gente tem seis ou sete fiscais para acompanhar todo o estado na área de
saúde e segurança”, informou.
Elton
Machado esclareceu que o indivíduo que cede ou até mesmo arrenda uma
propriedade para outra pessoa ou grupo explorar pode ser responsabilizado pelo
ato. Na caracterização do trabalho escravo, por exemplo, o proprietário corre o
risco de perder seu território.
Fabricação de meio-fio e paralelepípedo é feita com o auxílio de marretas
MPT acompanha pedreiras clandestinas
em Alagoas há 12 anos
Atualmente,
além do DNPM e da SRTE/AL, os territórios de mineração são também fiscalizados
pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA), Exército Brasileiro, Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), Ministério Público
Federal (MPF) e Ministério Público do Trabalho (MPT), através da Procuradoria
Regional do Trabalho (PRT), que apresenta ações mais firmes no combate a essas
atividades irregulares através de termos de ajustamento de conduta e ações
civis públicas.
Segundo
Adir de Abreu, que é procuradora do Ministério Público do Trabalho, o MPT
assiste à situação ilegal das pedreiras alagoanas desde o ano de 2002, quando
um inquérito para apurar a situação das áreas de mineração foi instaurado pelo
órgão. “De 2002 até agora o trabalho continua idêntico. Eles atuam na extração
da pedra de forma arcaica e insalubre”, enfatizou.
Ainda
de acordo com a procuradora do trabalho, durante a exploração, o MPT descobriu
que boa parte da pedra produzida pelas pedreiras clandestinas é consumida pelos
próprios municípios onde esses pontos de extração estão localizados. Ela enfatiza
que é extremamente importante que as empresas de construção civil observem a
origem do produto em nota fiscal para continuar evitando a disseminação dessa
prática irregular.
Atravessadores carregam caminhão que transporta o material extraído nas pedreiras até os pontos de comercialização
À
reportagem, Adir de Abreu observou que uma das maiores dificuldades do trabalho
do MPT na fiscalização é o fato da extração da pedra corresponder à principal
fonte de renda das famílias que residem nessa região. Por isso, existe a
tentativa dos órgãos envolvidos com o auxílio dos municípios em tentar criar
alternativas como a organização de cooperativas para ofertar melhores condições
e mais dignidade aos trabalhadores. “Eu fiquei até admirada porque são inúmeras
famílias que sobrevivem disso”, lamentou.
Mesmo
depois de tantos anos de acompanhamento dos órgãos responsáveis, o sofrimento
dos trabalhadores que arriscam suas vidas nas pedreiras clandestinas permanece.
Sem perspectivas, eles desconhecem a legislação e ofertam toda força que têm em
troca de uma remuneração irrisória que mal dá para pagar suas despesas mais
básicas. “Quem faz o trabalho duro é quem menos recebe. Por isso, não reconheço
como uma atividade efetiva porque está à margem da sociedade”, concluiu Adir
Abreu.
Confira aqui na íntegra a entrevista com Adir Abreu
Veja também a entrevista com Elton Machado:
Confira aqui na íntegra a entrevista com Adir Abreu
Veja também a entrevista com Elton Machado:
Nenhum comentário:
Postar um comentário